
Quando somos crianças amamos todos, fazemos amizades fortes antes mesmo de saber o nome das pessoas, não há inveja, não há tropeços nem decepções, só há alegria e chocolate. Os ferimentos não feriam o coração, eram apenas arranhões de quedas.
Haviam amigos, amigos de verdade, aqueles que passamos apenas uma tarde juntos, nós corríamos, pulamos, brigamos, nos entendíamos, ríamos, enfim, brincávamos e quando já se estava na hora de ir embora chorávamos por não querer parar de brincar, mas nos conformávamos com um sorvete, então dos despedíamos sem ter a certeza de que se um dia nos veríamos novamente, mas mesmo sem saber se cruzaríamos os nossos caminhos um dia estávamos felizes, pois havia acontecido.
A familia sempre era o ponto de paz, a maior alegria, quando chegava o domingo então sempre era festa, sempre sabíamos que a família se reuniria novamente e reencontraríamos todos. Os tios quase que uma rotina no domingo, sempre conversando, cada um com sua latinha de cerveja na mão (quando não era de um litro que eles dividiam), uns com um maço de cigarro no bolso, que de vez em quanto iam pra área para fumar, com eles haviam as maiores e melhores partidas de futebol, ficávamos indignados e com raiva, ninguém conseguia roubar driblar qualquer um deles, eram horas de táticas para conseguir ganhar deles, e quando conseguíamos roubar a bola de qualquer um deles era uma correria só, tudo bem que em vão, pois logo perdíamos novamente, imaginávamos que nunca conseguiríamos jogar tanto quanto eles, achávamos que ninguém poderia com qualquer um deles. As tias passavam horas e horas rindo na cozinha, muitas vezes fofocando, sempre em cima da mesa havia um refrigerante para as crianças atacarem quando sentirem vontade, mais afastado um pouco havia um litro de cerveja e uns cigarros que dividiam. Os primos eram os melhores amigos, eram as maiores aventuras, os mais velhos contavam histórias de terror para que todos ficassem com medo, as mais divertidas brincadeiras de se esconder e de pega, as melhores partidas de futebol, havia o tempo das primas, quando ficávamos muito tempo trancadas dentro do quarto falando de meninos, nos maquiando, arrumando o cabelo e inventando passos de musicas; quando se juntavam os primos mais velhos, os verdadeiros amigos, sempre deixávamos os mais novos de lado para não gorar com nossos planos, as vezes roubávamos umas latinhas de cerveja e nos escondíamos para beber e contar os nossos maiores segredos e de coisas erradas que tenhamos feito, essas sim eram nossas maiores aventuras quando pequenos.Mas quando crescemos, somos meio que obrigados a ver que nem todos são nossos amigos, que existe a inveja, e também há pessoas que querem passar por cima de você a qualquer custo. Que os tios não são tão bons assim, você começa a ver as primeiras discussões, e você acaba percebendo que as discussões são cada vez mais frequentes, e quanto mais o tempo passa mais vezes conseguimos ganhar no futebol. Percebemos que as tias não dão tantas risadas juntas, que muitas vezes elas não concordam e se afastam. Os encontros aos domingos são cada vez escassos, e fica mais difícil encontrar os primos para contar segredos, e mais fácil o desentendimento com aqueles que pouco vemos, os primos já não são os melhores amigos.
Há dias que está tudo maravilhoso e dias que nem tão bem está, e cada vez que observamos fica mais nítido que o mundo não é realmente como o víamos quando éramos crianças.
Então fica cada vez maior a saudade dos velhos tempos, cada vez maior a nostalgia.
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